O Diálogo Público – Encontro de Ideias e Soluções, realizado em João Pessoa (PB), na semana passada, reuniu especialistas e 459 gestores públicos (prefeitos, vereadores e outros representantes municipais) para debater temas apontados como prioritários para a administração pública municipal paraibana: primeira infância, obras públicas e transferências especiais.
Para o Tribunal de Contas da União (TCU), os diálogos públicos promovem aprendizado sobre a realidade enfrentada pelos municípios brasileiros e aproximação com as lideranças municipais. Na Paraíba, o evento foi resultado da parceria entre o TCU, o Tribunal de Contas do Estado da Paraíba (TCE/PB) e a Federação das Associações de Municípios da Paraíba (FAMUP).
Nos próximos dois anos, o Tribunal vai levar o Diálogo Público para todas as regiões do país. A próxima edição será realizada em Belém, no Pará, em maio.
Painel Obras Públicas: execução, fiscalização e prestação de contas
No discurso de abertura, um dos assuntos destacados pelo presidente do TCU, ministro Vital do Rêgo, foi a questão das obras paralisadas no Brasil. “Atualmente, mais de 11 mil obras financiadas com recursos federais estão paradas. Na Paraíba, são, ao menos, 411 obras paradas, afetando setores como saúde e educação, com impacto de bilhões de reais”, afirmou.
O ministro alertou, ainda, que quase metade da população paraibana não tem saneamento básico e mais de 60% das estradas municipais precisam de reparos para melhorar o transporte e escoar a produção.
No painel de discussão sobre obras públicas, a secretária de Controle Externo de Infraestrutura (SecexInfra), Keyla Boaventura, expôs o caso de uma obra de adutora na Paraíba que estava paralisada e que foi retomada após a solução encontrada em reuniões realizadas entre o ministério, o TCU, o município e órgãos do governo do estado. Ela afirmou que o problema das obras paralisadas é crônico e que o Tribunal faz auditorias sistemáticas para avaliar a questão.
A dirigente da SecexInfra apresentou dados das obras paralisadas disponíveis no Painel de acompanhamento de obras paralisadas, elaborado pelo Tribunal.
Entre as principais causas que levam à paralisação, estão a baixa qualidade técnica dos projetos e a dificuldade dos municípios em administrar os recursos recebidos, o que resulta no abandono da obra pelas empresas. Uma solução apontada pelo TCU para minimizar os problemas relacionados à baixa qualidade técnica dos projetos é a adoção de consórcios intermunicipais, com a finalidade de diminuir a desigualdade técnica e profissional entre os municípios menos favorecidos.
O painel foi conduzido de forma a orientar os gestores municipais, apontando problemas recorrentes nas obras e indicando possíveis soluções. Foram debatidos temas como falhas nas licitações e contratos, cláusulas suspensivas que definem prazos para aprovação dos projetos das obras, qualificação da empresa e dos profissionais responsáveis pela execução das obras, elaboração dos orçamentos, contratação de remanescente de obra e fiscalização da execução dos contratos.
O auditor do TCU Evaldo Araújo Ramos, com experiência como pregoeiro e leiloeiro, orientou sobre os aspectos mais importantes a serem observados pelos gestores nas licitações de obras e aconselhou os gestores a utilizarem o Portal Nacional de Contratações Públicas (PNCP), onde estão disponíveis modelos de documentos que são úteis nas licitações.
Na mesma linha, o gerente nacional e coordenador da Sala do PAC na Caixa Econômica Federal, Rodrigo Flores Gorski, esclareceu sobre o acompanhamento da Caixa nos contratos de repasse e termo de compromisso. Ele reforçou que o banco estatal apoia os gestores em relação às obras públicas. “A Caixa pode fazer o papel que o técnico do município muitas vezes não consegue.”
Gorski falou, ainda, sobre produto disponível na Caixa que pode ser adquirido pelos municípios para o acompanhamento de obras, nas situações em que a instituição não atua como mandatária da União. “Nós podemos auxiliar em várias etapas nos projetos, não só naqueles com recursos da Caixa, mas em todos os outros também”, finalizou.
Painel Primeira Infância nos Municípios
O primeiro painel de discussão foi destinado ao debate da primeira infância. A diretora de Políticas Públicas da Fundação Maria Cecília Souto Vidigal, Marina Fragata Chicaro, falou sobre a importância de o gestor municipal focar nesse público e apresentou números que demonstram a gravidade do assunto no Brasil:
Chicaro destacou que é no município que as coisas acontecem e pediu aos gestores que institucionalizem políticas públicas em favor desse público, a fim de que eventuais mudanças no comando municipal não causem descontinuidade das ações. “Os municípios precisam olhar para o acesso às políticas e se preocupar com a qualidade do serviço oferecido”, ressaltou.
Acesse o guia “Primeira Infância no Município”, que traz dados e orientações para o gestor.
A secretária de Controle Externo e Desenvolvimento Sustentável (SecexDesenvolvimento), Vanessa Lopes, fez a mediação do painel e destacou o trabalho desenvolvido pelo Tribunal de Contas do Estado de Roraima (TCE/RR), que, por meio de parcerias, se tornou indutor de políticas públicas voltadas para a primeira infância naquele estado.
Atualmente, conforme observou o auditor do TCE-RR Laurindo Gabriel de Souza Neto, o TCE local possui painel específico para o tema “primeira infância, que reúne dados relevantes que norteiam a atuação de todos os municípios”. Segundo ele, 100% dos municípios de Roraima possuem planos municipais voltados para a primeira infância.
Laurindo destacou que o TCE-RR já é atuante no tema primeira infância, mas ressaltou que, no biênio 2025/2026, esse será um dos focos principais do órgão. O auditor também mencionou que 212 prefeituras já se comprometeram a desenvolver ações na área. “Estamos fazendo um trabalho de orientação junto aos gestores municipais para que eles possam incluir, nos orçamentos, programas específicos para a primeira infância” disse.
Painel Transferências Especiais
Transferências Especiais foi outro tema de destaque no discurso do presidente Vital do Rêgo. Segundo ele, os municípios enfrentam dificuldade na hora de executar recursos provenientes das transferências da União. “Nos últimos cinco anos, a União transferiu cerca de R$ 26 bilhões para a Paraíba (sem incluir FPE e FPM), sendo 70% aos municípios. O grande desafio é transformar esses valores em políticas efetivas, em resultados diretos ao cidadão”, afirmou o presidente do TCU.
O secretário-Adjunto de Relações Institucionais, Waldemir Paulino Paschoiotto, destacou a função social das emendas especiais, que dão agilidade a diversas iniciativas das prefeituras. Com isso, o montante destinado aos municípios por meio desse tipo de recurso tem aumentado a cada ano.
Segundo Paschoiotto, em 2017 os municípios brasileiros receberam R$ 3 bilhões. Esse número saltou para R$ 8 bilhões no ano passado. Só para a Paraíba foram destinadas 1.080 emendas, com valor total de R$ 625 milhões. “No entanto, 17% das emendas ainda não foram cadastradas no Transferegov, o que pode resultar na suspensão de futuros repasses”, alertou.
Para receber os recursos, o gestor municipal precisa, em primeiro lugar, cadastrar o plano de trabalho no Transferegov, plataforma do governo que gere as transferências de recursos da União. Depois de inserido o plano de trabalho, a equipe do Ministério da Gestão e Inovação em Serviços Públcios (MGI) pode avaliar e liberar os valores ao ente federativo. Na etapa final, depois de receber os recursos, a prefeitura terá que prestar contas dos recursos.
O auditor de controle externo do Tribunal de Contas do Estado da Paraíba (TCE-PB) Luzemar da Costa Martins lembrou a importância da correta classificação dos recursos no sistema Transferegov. Segundo ele, tem sido comum a ocorrência de inconsistência entre os recursos informados pelo governo e pelo gestor dentro da plataforma.
A auditora-chefe da Unidade Especializada em Gestão do Estado e Inovação (AudInovação), Patrícia Coimbra, ressaltou a necessidade de haver transparência sobre esses recursos. “Sabemos que as transferências especiais fazem muita diferença no município, mas como é um recurso público, precisa de transparência e prestação de contas”, frisou.
De acordo com o auditor Michel de Oliveira Bandeira, o TCU está trabalhando na atualização da Instrução Normativa (IN) 93/2024, que regulamenta as transferências especiais para que se adeque às recentes determinações do Supremo Tribunal Federal (STF).
O vice-presidente da Federação das Associações de Municípios da Paraíba (Famup), André Luiz Gomes De Araújo, lembrou que as emendas de transferência especial deram autonomia ao prefeito e condições de entregar obras para a sociedade. Mas, para ele, os municípios, especialmente os pequenos, sofrem com o desinteresse por parte de grandes empresas. “Como fazemos pequenas obras, muitas vezes o valor do contrato não é atrativo para as empresas”, afirmou André, ao elogiar o evento como um momento importante de discussão de soluções conjuntas.
Mais informações: dialogopublico@tcu.gov.br ou (61) 3527-5831.