Em uma iniciativa pioneira para aproximar o controle externo da sociedade, o Tribunal de Contas da União (TCU) conduziu uma ampla consulta pública com o objetivo de identificar problemas prioritários na opinião dos cidadãos brasileiros, a fim de orientar cinco fiscalizações a serem realizadas. Essas pautas haviam sido propostas pelas unidades técnicas de controle externo e foram apresentadas em linguagem simples para a votação.
Lançada em 23 de abril e encerrada em 30 de junho, a consulta teve duração de 69 dias, mobilizou 1.341 participantes e gerou 3.360 votos. Foram recebidos 407 relatos qualitativos, o que consolidou a iniciativa como um marco na estratégia institucional de participação cidadã do Tribunal.
A divulgação da consulta também contou com ações presenciais estratégicas, em locais relevantes da cidade de Brasília. Foram realizadas mobilizações na Rodoviária do Plano Piloto, na Universidade de Brasília (UnB) e na Câmara dos Deputados. Além disso, a iniciativa foi apresentada no evento interno do TCU, o Perten-Ser, em que terceirizados e estagiários foram convidados a participar. Essas atividades ajudaram a ampliar o alcance da iniciativa e garantir diversidade entre os participantes.
A consulta contemplou 27 problemas distintos, organizados em 15 áreas temáticas. As cinco questões que mais receberam votos foram: obras de saúde paralisadas (256 votos), imóveis públicos ociosos (243), fila do INSS para perícia médica (215), mudanças climáticas (211) e rodovias federais em mau estado (202).
Para além do volume de votos, o TCU aplicou uma metodologia de priorização que ponderou também a profundidade das contribuições qualitativas, relatos espontâneos, críticas, sugestões e denúncias, conferindo ainda mais legitimidade às pautas destacadas.
Os dados evidenciam um forte alinhamento entre a agenda de preocupações da população e os objetivos de fiscalização do controle externo. Com base na análise qualitativa dos 407 relatos, identificou-se que 35% continham críticas ou denúncias específicas, 25% apresentavam sugestões propositivas, 20% traziam experiências pessoais, 15% expunham dados e evidências, e 5% expressavam apoio às pautas discutidas.
Os temas mais mencionados também foram os que geraram maior carga emocional nos depoimentos enviados, com destaque para o sofrimento decorrente da espera na fila do INSS, a indignação diante do desperdício de imóveis públicos e a sensação de abandono em relação à infraestrutura hospitalar e rodoviária.
Além disso, as histórias contadas pelos participantes revelam realidades concretas e urgentes. Cidadãos relataram, por exemplo, que seus familiares faleceram enquanto aguardavam perícia médica, que prédios públicos abandonados poderiam ser transformados em moradia digna e que o colapso das rodovias federais tem comprometido a segurança de motoristas, pedestres e ciclistas. Em regiões afetadas por desastres naturais, como o Rio Grande do Sul, a população relatou os impactos devastadores da falta de preparo do poder público para lidar com as mudanças climáticas.
A análise dos dados destaca a importância de mecanismos participativos no controle externo. Para futuras edições, o TCU estuda implementar novos recursos, como dashboards interativos, coleta padronizada de dados demográficos e parcerias com organizações da sociedade civil para ampliar o alcance da consulta.
Esta consulta pública reforça o compromisso do TCU com a escuta ativa da sociedade e com a construção de uma agenda de fiscalização mais conectada com as reais demandas da população, em alinhamento com a diretriz Tribunal do Cidadão, incluída no Plano de Gestão do TCU 2025-2026.